Filme potiguar escrito e dirigido por egressa da UFRN retrata a trajetória da primeira mãe de santo formada em Ciências da Religião no Brasil
A pré-estreia do curta-metragem Iyá Luciene, Nascida do Fogo acontece no dia 27 de setembro, às 18h30, na Travessa Santa Ana, 14, no bairro Jardim Progresso, em Natal. O vídeo foi escrito e dirigido por Auana Câmara, egressa do curso Comunicação Social – Audiovisual, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A sessão de lançamento ocorre dentro da Mostra Cine Irè, que dá continuidade às atividades da Escola de Axé, projeto que já vem desenvolvendo ações como o Curso de Yorùbá, as oficinas de audiovisual, a produção cultural e escrita criativa.
O evento contará, ainda, com a exibição dos filmes Felis e Oxóssi, o Senhor da Comunidade, produções também potiguares. Além das projeções, o público poderá participar de uma feira cultural realizada pela comunidade, tornando a noite uma celebração coletiva de arte, memória e ancestralidade.
Iyá Luciene, Nascida do Fogo
O documentário acompanha a história de Luciene, uma menina do campo que foi chamada pelos ventos de Oyá, também conhecida como Iansã, para se tornar Iyalorixá na capital. Sua trajetória a levou a fundar o Ilê Axé Obeotogundá Iré, que é um ponto de cultura viva de matriz africana e originária, e a se tornar uma importante líder comunitária e ativista das periferias e das comunidades tradicionais.
Em busca de igualdade racial e conhecimento para lidar com as adversidades do mundo, ela conquistou um feito inédito: foi a primeira mãe de santo a se formar em Ciências da Religião no Brasil, enxergando na educação uma chama transformadora para uma sociedade sem racismo.
A narrativa do filme é construída a partir da perspectiva do tempo iorubá, em que tudo é cíclico e o presente se conecta às experiências de antepassados e orixás. Essa concepção serve de guia para a obra, que busca evidenciar o papel político das religiões de matrizes africanas e originárias.
Com estética poética e participativa, o filme aposta na naturalidade do barracão do Ilê Axé Obeotogundá Iré, registrando sua luz, suas cores e seus sons. Tons terrosos predominam, acompanhados do azul de Oyá e Ogum. A trilha sonora, de caráter autoral, dialoga com os toques do rum de Oyá e com elementos da Jurema Sagrada, compondo uma atmosfera que une espiritualidade, território e resistência.
“Receber a proposta da minha Iyá de contar sua história foi um presente da ancestralidade. Dessa forma, passei a ter sede de buscar toda a história de quem, gentilmente, passou a ser minha mãe, entrelaçando a história de fundação do barracão e o meu processo de desenvolvimento espiritual”, afirma Auana Câmara sobre a experiência de dar vida à obra.
Auana conta que a ideia de criar o curta nasceu ainda na graduação. “Esse projeto se tornou meu TCC, e tive uma grande contribuição do meu orientador Rodrigo Almeida, que olhou todos os cortes e me ajudou de um olhar de fora a tornar a narrativa mais completa, além disso, como coorientadora, Andrielle Mendes — que foi como uma guia nesse processo — sempre me fazia aterrar as ideias, em virtude de estar lidando diretamente com minha espiritualidade dentro desse curta-metragem. Dessa forma, foi possível eu continuar centrada em transformar a oralidade do Ile Ase Obeotogunda Ire em audiovisual”, completa.
O projeto foi contemplado na categoria de novos realizadores do edital de fomento ao audiovisual com apoio da Produtora Passa Visão e Ponto de Cultura Viva Ilè Asé Obéòtògúndá Ire realização da Fundação Cultural Capitania das Artes (Funcarte), Prefeitura de Natal, Ministério da Cultura e Governo Federal pela Lei Paulo Gustavo.
Auana ainda revela expectativas para o futuro do curta. “Eu espero que o filme rode todo o Brasil e que possamos conseguir financiamento para que ele rode internacionalmente. Iyá Luciene, Nascida do Fogo é um filme que retrata direitos humanos, educação, tecnologias ancestrais sendo implementadas no presente, empoderamento e família”.
A entrada é gratuita e todos os filmes são de classificação livre. As pessoas interessadas podem acompanhar o projeto a partir das redes sociais (@nascidadofogo).
Fonte: Assessoria do evento; Edição: Juliana Holanda; Revisão: Rebeca Ribeiro.